"Mickey 17": É bom?

 
A grande expectativa gerada por Mickey 17 é inegável, especialmente após o sucesso mundial de Bong Joon-Ho com Parasita, vencedor do Oscar. No entanto, o diretor parece não conseguir recriar a mesma magia, entregando um filme com muitas ideias promissoras, mas com pouco desenvolvimento para sustentá-las. O resultado é uma história cheia de potencial que, infelizmente, não chega a deslanchar como se esperava.

Em Mickey 17, acompanhamos Mickey Barnes, um homem que, em busca de escapar de sua vida na Terra, se alista em uma expedição para colonizar Niflheim, um planeta gelado e inóspito. Ele se torna parte de um projeto onde seres humanos são tratados como descartáveis – enviados em missões perigosíssimas e, ao morrerem, reimpressos com a maioria de suas memórias preservadas. A premissa, intrigante à primeira vista, carrega consigo uma enorme carga filosófica e ética, mas o roteiro de Mickey 17 não consegue acompanhar a profundidade da proposta.

Nos primeiros momentos do filme, a trama ainda consegue prender o espectador. A jornada de Mickey nos apresenta um universo cheio de mistério e tensão, mas, à medida que o filme avança, começa a se desintegrar. O ponto de virada, onde Mickey 17 encontra Mickey 18, marca uma transição desorientadora. É aqui que o filme começa a se perder em sua própria complexidade. O diretor, em uma tentativa de abarcar diversos elementos narrativos, acaba acelerando a história de forma desconexa, o que resulta em uma série de núcleos abertos que nunca são devidamente explorados. O desenvolvimento de personagens se torna superficial, e o impacto emocional se perde no caminho.

No entanto, Mickey 17 ainda possui momentos de brilho, em grande parte graças às atuações excepcionais do elenco. Robert Pattinson entrega uma performance sólida como Mickey, imbuindo o personagem com nuances que vão além do estereótipo de "herói descartável". Mark Ruffalo e Toni Collette, como Kenneth Marshal e Ylfa, respectivamente, trazem uma intensidade que enriquece a narrativa e dá aos seus papéis um peso emocional que falta em outros aspectos do filme. Eles são, de fato, o alicerce emocional da obra.

Em última análise, Mickey 17 se revela uma obra com um grande conceito, mas que falha ao não conseguir desenvolvê-lo de forma coesa e satisfatória. Bong Joon-Ho, embora ainda brilhante em muitos aspectos técnicos e visuais, não consegue traduzir toda a ambição do filme em uma narrativa que consiga sustentar o peso de suas ideias. É um filme que, ao final, deixa a sensação de que poderia ter sido muito mais.

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